Mostrando postagens com marcador artigos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador artigos. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 16 de abril de 2019

Patetas ao computador

Patetas ao computador

Há um conhecido desenho animado dos estúdios Disney chamado “Motor Mania”, no qual um pacato e gentil cidadão chamado Mr. Walker (walker = pedestre), vivido pelo personagem Pateta, se transforma no odioso Sr. Wheeler (wheel = roda, volante) assim que dá partida no motor do seu carro. 
Com narração em off, a animação, que tem duração de pouco mais de seis minutos, mostra diversos hábitos condenáveis ao volante, como dirigir perigosamente, não respeitar pedestre, negar passagem e xingar outros motoristas e até participar de rachas. 
Produzido em 1950, o desenho parece passar a mensagem de que o carro pode despertar um sentimento de poder em alguém que já tenha personalidade controversa. Por se sentir seguro dentro do automóvel e um tanto anônimo, o motorista com algum transtorno deixa fluir seu caráter agressivo e narcisista, prejudicando a coletividade do trânsito. 
Pois bem! Agora, troque-se o carro pela internet. O que vemos hoje? Pessoas pacatas, “normais”, cidadãos de bem, que, ao se sentarem diante do computador ou sacarem seus smart phones e entrarem nas redes sociais, se transformam, viram seres quase irracionais. Botam pra fora todos os sentimentos desprezíveis, destilando ódio, intolerância, preconceito, pois sentem-se protegidos pelo anonimato que a rede aparentemente oferece.
O desenho:

 


terça-feira, 22 de dezembro de 2015

O peso dos tributos

O peso dos tributos




Reclamar da carga tributária não é algo tão novo assim. Exemplo disso é uma história interessante contada na Bíblia. Relata o Livro de Samuel que o rei Salomão, de Israel, filho de Davi, tinha poder sobre todos os reinos, desde o rio Eufrates até a região filisteia e a fronteira do Egito. Enquanto viveu, todos lhe pagaram tributo e obedeceram. Salomão recebia diariamente para o seu gasto treze toneladas e meia de flor de farinha (a mais refinada e branca) e 27 toneladas de farinha comum, dez bois cevados, vinte bois de pasto, cem carneiros, além de veados, gazelas, antílopes e aves de ceva. O rei possuía estábulos para quatro mil cavalos de tração e doze mil cavalos de montaria. O texto nos dá uma ideia do peso que a máquina do Estado representava para o povo. Os tributos, em geral, eram pagos em víveres e se destinavam a sustentar não só a família real e frequentadores da corte, mas também os oficiais, funcionários e o exército. Isso sem falar nas 700 esposas e 300 concubinas do rei. Também não se pode deixar de mencionar que Salomão construiu um templo e um palácio luxuosíssimos.
Com a morte de Salomão, o jovem Roboão, seu filho, foi proclamado rei. O povo, então, vai até ele e diz: “Seu pai nos impôs um fardo pesado. Se você nos aliviar da dura escravidão e do fardo pesado que ele nos impôs, nós serviremos a você”. Roboão pede um tempo para responder e vai consultar os anciãos. Estes o aconselham a atender ao pedido da população. Ele, porém, despreza o conselho e vai trocar ideias com os jovens com os quais havia crescido. Ouviu deles este conselho: “Diga ao povo: meu dedo mínimo é mais grosso do que a cintura de meu pai. Meu pai colocou sobre vocês um fardo pesado, mas eu aumentarei ainda mais esse fardo”. Assim fez Roboão e pagou caro por não ter dado ouvidos aos anciãos. Uma revolta popular acabou dividindo o reino de forma irremediável. Das 12 tribos de Israel, apenas duas ficaram com ele.

sábado, 3 de julho de 2010

Emoções bissextas

-->
Emoções bissextas

Fábio Costa
Jornalista

Mais uma vez vamos acompanhar as partidas finais de uma Copa do Mundo sem a presença da Seleção Brasileira. Como aconteceu em 2006, despedimo-nos da competição nas quartas de final. Assim como não foi a primeira vez, também não será a última, nem foi a mais doída, pois desde o início havia um sentimento de desconfiança em relação à equipe comandada por Dunga, ou pelo menos de otimismo moderado.
Minha geração tem ainda viva na memória a derrota do Brasil para a Itália, na Copa de 82, no jogo que ficou conhecido como a “tragédia de Sarriá”, em referência ao estádio onde a partida foi disputada. Havia naquela Copa um clima de muita confiança em nossa seleção, aqui e alhures. Tínhamos craques como Júnior, Zico, Sócrates e Falcão, comandados por Telê Santana, um amante do futebol-arte.
Depois de um início nervoso, a seleção deslanchou e atropelou os primeiros adversários, incluindo a Argentina e o jovem Diego Maradona. Tudo levava a crer que chegaria ao título. No meio do caminho, entretanto, havia uma Itália e seu bambino Paolo Rossi. Lembro-me de que não consegui assistir aos cinco minutos finais da partida. A ansiedade e a angústia me fizeram sair da sala. Fiquei, de longe, solitário, ouvindo a narração até soar o apito final.
Houve outras frustrações nas copas que acompanhei. Quatro anos antes, eu vira o Brasil passar para a fase seguinte jogando um futebol burocrático e sem graça. Muita teoria e pouco futebol. No final, fomos “campeões morais”.
Em 1986, até que tínhamos quase os mesmos craques da competição anterior e o mesmo técnico, mas já era um time envelhecido, e a preparação foi atrapalhada. Mais uma vez ficamos frustrados quando o Brasil foi eliminado pela França nos pênaltis.
A Copa de 90 é para ser esquecida. Em 1994, ganhamos a Copa com uma seleção eficiente. Quatro anos depois, veio aquela situação até hoje mal-explicada envolvendo Ronaldo e levamos uma lapada da França na final. Em 2002, conquistamos o penta e na Copa seguinte tivemos uma seleção de estrelas sem brilho eliminada nas quartas de final.
Desempenho da Seleção Brasileira à parte, o que chama a atenção é o efeito que a realização de uma Copa do Mundo de Futebol provoca em nosso meio. Mesmo aquelas pessoas que dizem não se interessar por futebol se unem aos aficionados para acompanhar a competição. Parece haver algo contagiante que mexe com o inconsciente coletivo do brasileiro.
E esse clima diferente começa bem antes do início da competição. Este ano, por exemplo, parece ter sido retomada a febre dos álbuns de figurinhas dos jogadores. Confesso que, quando o álbum foi lançado, pensei em comprar, mas achei que estava meio velho para isso. Depois vi que estava enganado, pois constatei, surpreso, que a brincadeira contagiara pessoas de várias idades, incluindo cinquentões e sessentões. Mesmo assim, me contentei com meu álbum virtual.
A verdade é que o futebol parece ser um poderoso fator de mobilização. No papel de torcedor da Seleção, o mais excluído cidadão, o mais marginalizado, se sente um autêntico brasileiro. Bom seria se esse mesmo sentimento, essa mesma mobilização acometesse os brasileiros em outros aspectos da vida social.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Para a eternidade

Para a eternidade

Ao ler o noticiário local do dia 17 de junho num dos nossos muitos portais na internet, vi-me transportado para o ano de 1985, quando iniciei o curso de Jornalismo na Universidade Federal de Alagoas. Vieram-me à lembrança os meus primeiros dias de aula e os primeiros professores.
Lembro que a turma estava dispersa quando chegou à sala de aula, no bloco João de Deus – na época, um dos mais novos do campus –, um senhor baixinho, calvo, exibindo vistosas suíças. Apresentou-se como Sebastião Grangeiro Neto, professor de Língua Portuguesa.
Logo no começo da aula soltou a frase que era sua marca registrada. “Entrei nesta casa pela porta larga da decência; não pulei a janela da imoralidade”, costumava dizer ele, para ressaltar que seu ingresso no corpo docente da Ufal havia sido por méritos próprios, ou seja, por concurso, no qual fora aprovado com nota dez.
Durante o semestre, em meio às noções de gramática, Grangeiro (assim mesmo, com “g”) nos brindou com outras frases marcantes. Também não há como esquecer sua costumeira explicação para justificar algum atraso – estava em palácio, em colóquio com o governador, de quem era assessor.
Depois daquele semestre, nunca mais tive contato com o professor. Agora leio a notícia sobre seu falecimento, o que me motivou a escrever este texto. Para muitos que tiveram a oportunidade de estudar com Grangeiro, ele vai ser lembrado mais pelas frases de efeito, pelo português castiço, pelo gestual, ou até por seu modo peculiar de tocar piano. Prefiro lembrar-me dele por seu vasto conhecimento da língua portuguesa e suas dicas valiosíssimas, que me são úteis até hoje. Para fechar, mais uma de suas frases típicas. Quando alguém demonstrava alguma admiração por seu conhecimento, ele dizia solenemente: “Meus filhos, eu não aprendi para hoje, aprendi para a eternidade!”. Descanse em paz, mestre!