segunda-feira, 26 de abril de 2010

Feijão-de-corda ameaça a "preferência nacional"

REPORTAGEM

Feijão-de-corda ameaça a "preferência nacional"
Pesquisa aponta que consumo em excesso da leguminosa causa diminuição do bumbum

Fábio Costa
Jornalista

Muito popular no Nordeste, principalmente na zona rural, o feijão-de-corda (cujo nome verdadeiro é caupi) é hoje um dos alimentos que mais fornecem proteínas à dieta do povo da região. Segundo o engenheiro-agrônomo Josival José Gomes de Almeida, essa espécie de feijão é rica em proteínas, vitaminas e sais minerais, constituindo-se em boa fonte de ferro (2,10mg), fósforo (146 mg) e em vitaminas A e C.
Entretanto, uma pesquisa divulgada em 1992 revelou uma faceta do feijão-de-corda que certamente pode deixar de orelha em pé a maioria das mulheres que apreciam o produto. O caupi é rico também em uma substância chamada lisina, que tem como propriedade queimar calorias unicamente numa parte do corpo humano muito valorizada pela cultura erótica brasileira: as nádegas.
Ou seja, de acordo com os pesquisadores, o consumo prolongado do nosso tão saboroso feijãozinho-de-corda pode ter como consequência a diminuição do bumbum, um pecado em se tratando do Brasil, um país em que essa região do corpo, principalmente o feminino, já foi definida como preferência nacional. Uma ressalva: a lisina só agiria em adultos ou adolescentes com mais de 15 anos.
Por falta de recursos, não foram realizados novos estudos sobre esse interessante fenômeno. Ao que parece, aquilo que os pesquisadores descobriram a sabedoria popular já suspeitava havia muito tempo. Tanto é que um dos nomes pelos quais o caupi é conhecido no interior é “cocha-bunda”, pois já se acreditava que as mulheres que comiam muito feijão-de-corda acabavam com a região glútea menos abundante.
De origem africana, o caupi amplamente cultivado pelo pequeno produtor e se trata de uma cultura de subsistência. Pode ser consumido como hortaliça, como feijão verde, vagem, ramos, folhas para alimentação animal, opção como fonte de matéria orgânica (adubo verde) e na recuperação de solos pobres em fertilidade ou esgotados pelo uso intenso.
Seu plantio é feito logo nas primeiras chuvas, pode ser plantado em sulco ou cova a uma profundidade de 5 centímetros. No cardápio das famílias nordestinas ele pode aparecer também sob a forma de farinha, utilizada na alimentação de crianças desmamada como papas, mingaus e caldos, ou ainda para o fabrico de pães, biscoitos e macarrão.
Segundo Josival Gomes, em Alagoas a região produtora de caupi compreende os municípios da grande Arapiraca, que vem utilizando quatro variedades desse feijão. A produção supera em duas vezes a produção média do Estado, que está em torno de 400 quilos por hectare em cada safra.

Alternativas para um bom bumbum

Na cultura brasileira, sempre houve a tendência à valorização das mulheres de formas arredondadas, avolumadas e bem definidas. Com a liberalização dos costumes, não é difícil deparar com mulheres que usam roupas curtas ou apertadas para realçar os dotes físicos. “Para mim, o bumbum tem de ser bem rechonchudo e empinadinho”, afirma o comerciário Alfredo Luiz, enquanto observa as garotas passeando na praia da Ponta Verde.
Para quem não foi agraciada pela natureza, é possível apelar para algumas saídas alternativas. Usar roupas que disfarcem a ausência de nádegas abundantes é uma dela. Há também a ginástica localizada, mesmo assim esse tipo de atividade não faz milagres e pode apenas moldar os glúteos de mulheres e – por que não?– de homens insatisfeitos com a parte traseira do corpo. Uma opção radical é o implante de silicone.
Outra opção quem oferece são as indústrias de lingerie. É possível encontrar meias-calças com enchimento, que, como num passe de mágica, transformam glúteos chochos em bumbuns mais atrativos. Uma das lojas que oferecem esse tipo de acessório em Maceió chega a vender até 15 peças por dia. Os compradores são, em sua maioria, mulheres de meia-idade e – pasmem! – homens.
O grande problema de quem resolve apelar para o bumbum falso é a possibilidade de decepcionar o parceiro. “O homem pode ficar atraído pelo bumbum e na hora do rala e rola, vem aquela decepção, já pensou?”, avalia a vendedora da loja.

Nádegas geram dinheiro e fama

a valorização da região glútea feminina tem sido constantemente explorada pela mídia, que volta e meia lança ídolos moldados mais em cima dos atributos físicos em detrimento dos dons artísticos. Quem não se lembra, por exemplo, da “cantora” Gretchen, que, na década de 80, fez sucesso como  a “rainha do bumbum”, embora seus dotes vocais fossem quase nulos?
Outro caso é o da ex-chacrete Rita Cadilac, que chegou a declarar que, quando morresse, desejava ser colocada no caixão de bruços, para que todos se lembrassem dela.
O caso mais recente de exploração comercial das formas abundantes e reboliças é o de Carla Perez, a loura que animava as apresentações do grupo baiano “É o Tchan”. Não se sabe se pela qualidade musical do conjunto ou pelos apelos eróticos de Carla, o “É o Tchan” se transformou num fenômeno de vendas em todo o Brasil.
Para as mulheres que se preocupam em manter o bumbum sempre em forma, a pesquisa sobre o feijão-de-corda não deve causar pânico, pois o efeito da lisina só seria um risco se o produto fosse consumido constantemente. Por isso, ninguém precisa ficar com peso na consciência ao degustar um delicioso feijão tropeiro com arroz e churrasco de carneiro.

* Matéria publicada originalmente em O Jornal, edição do dia 13 de abril de 1997